terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sudão do Sul: uma nova nação

Antes de discorrer um pouco mais sobre o Sudão do Sul, vale um resumo de alguns esclarecimentos baseados no texto do meu amigo Marcelo Peixoto, historiador da Portas Abertas:

O Sudão, região anteriormente conhecida como Núbia, recebeu árabes muçulmanos que ali se estabeleceram até o século XIX, quando foi dominado pelo império otomano e depois pelos britânicos. Estes dividiram a área em duas para facilitar seu domínio. Sendo assim, no norte incentivaram o islamismo e a língua árabe, e ao sul o cristianismo e a língua inglesa. Após o fim da ocupação britânica, duas guerras civis dizimaram muitas vidas. No sul estão as terras mais férteis ao plantio já que esta região é banhada pelo rio Nilo, e 65% das reservas de petróleo estão ali. Mas é no norte que se encontram todas as refinarias de petróleo e as principais indústrias do país, o que torna uma região dependente da outra. O SPLA (Exercito de Libertação do Povo do Sudão do Sul), grupo radical cristão que defendia a separação territorial e política do país, travou longa guerra com grupos radicais muçulmanos, o que levou muitos jovens a perderem suas vidas.

O mundo acompanhou o noticiário quando em janeiro de 2011, após uma série de brutais guerras civis e a perda de milhões de vidas, o povo do Sul do Sudão votou esmagadoramente pela secessão do governo islâmico do norte. O referendo foi pacífico e confirmado pelas Nações Unidas, com 99% dos votos registrados a favor da independência. As igrejas cristãs, protestantes e católicas, se uniram em oração para a disposição pacífica dos corações e mentes e obtenção de um resultado sem violência. Ações de educação e esclarecimentos sobre os acordos de paz e os processos de votação foram realizados.

Cumprimento de profecia?

Segundo as agências Sudanese Online e Prophecy Newswatch, a crença da maioria dos cristãos do país é de que a independência do Sudão do Sul trata-se de cumprimento de profecia bíblica. A independência de sua nação teria sido anunciada na Bíblia mais de 2.000 anos atrás, em uma das várias passagens que se refere à terra de Cuche, e os descreve como pessoas de estatura elevada e pele lisa, cuja terra os rios dividem. É quase unanimidade entre eles a opinião e o crédito de que seria uma ação da vontade de Deus para cumprir uma profecia do capítulo 18 do livro do profeta Isaías, que fala do povo do alto Nilo, e interpretam o texto como uma indicação que aponta o fim do regime muçulmano do norte.

Líder de uma Igreja Presbiteriana de imigrantes sudaneses em Nashville, o pastor Jock Paleak afirma não estar totalmente seguro de que a profecia se refere à independência do Sudão do Sul, mas Malok Deng, pastor da Igreja Bíblica Sudanesa também em Nashville, não tem dúvidas disso, e Martin Drani, pastor da Igreja Comunitária Sudanesa na mesma cidade, tem certeza de que Deus é a verdadeira força por trás do referendo. Outros estudiosos também veem a possibilidade de que o norte muçulmano estará envolvido no ataque a Israel profetizado em Ezequiel 38, onde afirma-se que a terra de Cuche fará aliança com a Pérsia (Irã) e Pute (Líbia) no fim dos tempos. Assim, “apenas países muçulmanos atacariam Israel segundo o profeta Ezequiel”, dizem.
A realidade: Sul e Norte

Depois de 50 anos de luta armada e dois milhões de mortos, o povo continua comemorando o nascimento do Sudão do Sul, mas de cara o novo estado ocupa a posição de país em desenvolvimento mais pobre do mundo.

Agora está ocorrendo um êxodo de proporções históricas, entre estes, muitos cristãos. Estima-se que de 800.000 a um milhão de pessoas estão abandonando o norte, onde vivem em campos de refugiados ao redor de Cartum para voltar à terra de seus antepassados. No entanto, sua alegria é limitada. Há muito pouca estrutura para recebê-los e são reais as ameaças de conflitos entre tribos. A Igreja do Sudão do Sul também celebra e se prepara para atender os fiéis recém-chegados, mas também está ciente dos desafios difíceis no futuro.

Segundo a Portas Abertas, para os cristãos que ainda estão no norte, relatos de hostilidade e perseguição ainda são frequentes. Este mês de setembro, extremistas muçulmanos enviaram mensagens de texto para pelo menos dez líderes de igrejas em Cartum, dizendo que estão planejando atacar os líderes cristãos, edifícios e instituições por desejarem que este Sudão seja puramente islâmico, por isso devem matar os infiéis e destruir suas igrejas. Além disso, extremistas islâmicos do Paquistão, Afeganistão e Bangladesh chegam ao país a cada duas semanas, para passar por treinamentos em campos secretos em Cartum, antes de ser enviados por todo o país para destruir templos cristãos. Alguns atentados a cristãos aconteceram desde julho e hostilidades começaram a aumentar após a declaração do presidente Omar al-Bashir, em que afirmou que sua república seria baseada na Sharia (lei islâmica) e na cultura islâmica, com o árabe como língua oficial.
Vamos orar:

- Pela chegada de mais ajuda humanitária, pois a fome e outras dificuldades sociais dificultam muito o trabalho de líderes cristãos;

- Para que Deus levante mais líderes preparados para desenvolver seu trabalho em meio a tantas consequências de um caos que dura há anos;

- Pelas igrejas, grupos e agências que têm investido no preparo teológico de novos líderes e projetos de assistência às igrejas e missionários locais;

- Por condições de evangelização;

- Por aumento dos recursos e logística para recebimento dos que estão vindo do norte;

- Por convívio pacífico entre muçulmanos e cristãos que estão no Sudão e por testemunho e prudência entre eles.

Você ainda pode assistir abaixo dois documentários. Um deles, sobre os Temores e Esperanças do Sudão do Sul, que mostra um pouco da situação social e política, incluindo alguns conflitos entre tribos. O segundo, da Portas Abertas, um pouco antigo e portanto muito antes da independência, mostra o Centro de Treinamento Emanuel e outros projetos realizados no Sul. Vale a pena conferir!

Tatiana Santos
Fonte: www.tatianasantos.wordpress.com

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