A Bíblia nos denomina de tantas maneiras diferentes que podem parecer contraditórias. Somos a noiva de Cristo, servos de Deus, seus filhos ou soldados? Somos tudo isso. Uma visão voltada exclusivamente para uma dessas facetas pode causar distorção no entendimento e na prática cristã. Todos esses termos referem-se à realidade espiritual, mas, em primeira análise, devem ser considerados como metáforas plenamente conciliáveis no que tange às lições transmitidas. Pensando assim, não perguntaremos como Jesus pode ser, ao mesmo tempo, o pastor e a porta das ovelhas, o cordeiro de Deus e o leão de Judá (João 10.7,11; João 1.29; Ap 5.5).
Jesus contou muitas parábolas relacionadas ao Reino de Deus, como se vê, por exemplo, nos capítulos 13 e 25 do evangelho de Mateus. Por que tantas? Não seria repetitivo? O que ocorre é que nenhuma parábola é suficiente para expressar toda a realidade espiritual. Então, o Mestre contou diversas. Cada uma demonstra diferentes aspectos, conceitos e valores do Reino.
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Em Mateus 25, Jesus começou falando sobre dez virgens que esperavam o noivo, mas, desejando mostrar o outro lado da questão, ele falou, na sequência, sobre três servos que esperavam o seu senhor (Mt 25.14-30). Jesus deseja que tenhamos uma visão cada vez mais ampla sobre a sua pessoa, sobre o Pai, o Reino de Deus, a segunda vinda e sobre nós mesmos, nossa posição, privilégios, deveres e responsabilidades.
“Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou” (Ap 19.7).
A igreja é a noiva de Cristo. Esta figura nos lembra a pureza, o amor, o compromisso, a preparação, o casamento, a festa e a intimidade. O noivo não é uma pessoa estranha ou indiferente. Isso nos mostra que Cristo se importa conosco e nos ama profundamente. O amor é a base de tudo, mas não é o fim. Existe muito mais na nossa relação com Deus.
“Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna” (Rm 6.22).
Na parábola dos talentos somos representados pelos servos (Mt 25.14-30). É outra perspectiva que o cristão precisa ter acerca de si mesmo. Agora, não se fala em festa, mas em recursos, responsabilidades, trabalho e prestação de contas. O senhorio de Cristo está em evidência. Precisamos servi-lo de acordo com os dons que ele nos confiou. Contudo, não podemos ter apenas essa visão, transformando a vida cristã em ativismo mecânico ou meramente profissional. Precisamos servir por amor, ainda que haja uma recompensa.
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (João 1.12).
Quando nos trata como filhos, a Palavra nos lembra o novo nascimento, nosso vínculo com o Pai, a participação na família de Deus, uma nova natureza e uma herança incorruptível no céu. O que define a condição de filho não é o que ele faz ou possui, mas o que ele é.
Contudo, não podemos nos esquecer do nosso alistamento no exército de Deus. Somos soldados. Isso nos lembra disciplina, treinamento, armamento, inimigos, lutas, guerras e vitórias.
“Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo” (2Tm 2.3).
A percepção parcial da identidade cristã pode criar expectativas indevidas. Como filhos, esperamos benefícios, provisão, carinho e proteção. Não está errado, mas o que faremos quando Deus permitir dificuldades em nossas vidas? Quem não tem luta é soldado morto.
“Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse” (1Pe 4.12).
Portanto, a vida espiritual assemelha-se muito à vida natural quanto à diversidade de papéis, fases e situações. Queremos bênção sem compromisso? Vitória sem luta? Canaã sem deserto? Festa sem trabalho?
O Evangelho traz não apenas bênção e salvação, mas também transformação e missão. Não é algo apenas para mim, mas a partir de mim para o outro. Esta realidade interfere na nossa visão sobre nós mesmos, sobre o próprio Deus e sobre a Igreja.
Devemos confiar no Senhor e aceitar o que Ele tem para nós, certos de que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28).
:: Pr. Anísio Renato de Andrade,lagoinha.com